O futebol, às vezes, oferece a oportunidade perfeita para a justiça poética. E no dia 27 de julho de 1981, o Flamengo teve a sua. Meses após um dos episódios mais covardes da história do Clássico da Rivalidade, onde Zico foi brutalmente caçado em campo, o destino colocou os dois times frente a frente novamente. O que se viu no Maracanã não foi um jogo; foi uma vingança. Uma resposta avassaladora, não com a mesma violência rasteira do rival, mas com a arma mais letal daquele time: o futebol-arte. Esta é a história do inesquecível massacre de 6 a 0, o dia em que o Flamengo lavou a alma da Nação.
O Clima de Guerra e a Ferida Aberta: A Origem da Vingança
Para entender a carga emocional daquele 6 a 0, é preciso voltar a março daquele mesmo ano. Em outro clássico pelo Carioca, o lateral do Botafogo, Marcio Santos, cometeu uma entrada criminosa em Zico, lesionando gravemente nosso Rei. A imagem da violência chocou o país e deixou uma ferida aberta na Nação. Aquele ato foi visto não como um lance de jogo, mas como uma tentativa deliberada de tirar o maior craque do Brasil de combate. O sentimento de impunidade e a raiva acumulada transformaram o reencontro entre as equipes em algo muito maior do que um simples jogo.
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A Resposta com a Bola: O Massacre no Maracanã
Quando a bola rolou naquele 27 de julho, pela Taça Guanabara, o Flamengo não entrou em campo para revidar a violência, mas para responder com a bola. E a resposta foi uma sinfonia de futebol ofensivo, uma demonstração de superioridade técnica e tática que humilhou o adversário. O time de Cláudio Coutinho (que ainda comandava a equipe no Carioca) estava endiabrado.
O placar foi construído com naturalidade, como um rolo compressor passando por cima de um oponente atônito:
Nunes (2)
Lico (2)
Adílio
Andrade
Zico, o alvo da violência meses antes, não marcou, mas foi o maestro. Regeu o time com passes geniais, dribles desconcertantes e uma atuação de gala, como se dissesse: "Vocês tentaram me parar na força, mas eu respondo com a bola". O Botafogo, perdido em campo, assistiu passivamente ao show rubro-negro.
Mais que uma Goleada, Uma Declaração de Superioridade
O 6 a 0 não foi apenas uma goleada elástica; foi uma declaração de superioridade moral e futebolística. Foi a prova de que, enquanto alguns apelavam para a violência, o Flamengo respondia com talento. Foi a vingança perfeita: não olho por olho, mas talento contra truculência. Aquela vitória lavou a alma da Nação, mostrou a força mental daquele elenco que, mais tarde naquele ano, conquistaria a América e o Mundo, e entrou para a história como um dos maiores massacres já aplicados no Clássico da Rivalidade.